sexta-feira, 10 de agosto de 2012

POESIA E BELEZA

 Por Ricardo Gondim

Poesia é jeito de expressar beleza. Poesia transpira sua graça na arte, no caos, no trivial, no soneto, nas guerras, na natureza, na solidariedade, nos estercos, na música. Quando alguém se refere à beleza, refere-se à capacidade, pungente ou doce, evidente ou sutil, de comunicar uma formosura incomum.

Discreta, a beleza poética se esconde dos rasos. Na música, para perceber poesia, há de se ter ouvidos silenciosos; na pintura, olhos singelos; na bondade, coração despretensioso. Poesia é caminho excepcional para alumbrar-se diante do trivial.

Os rabiscos trêmulos do cartão de aniversário, do menino para o pai, contém uma formosura única. Sobra poesia no sorriso de quem agradece o abraço compassivo. Só uma alma enternecida consegue captar poesia no berimbau, quando marca o compasso de uma capoeira, na flauta de um chorinho ou no violino, quando alcança as notas mais altas.

Poesia não obedece métrica, não carece da rima.

Castro Alves revelou uma beleza amarga ao se indignar contra a escravatura:

Senhor Deus dos desgraçados! 

Dizei-me vós, Senhor Deus, 

Se eu deliro… ou se é verdade 

Tanto horror perante os céus?!… 

Ó mar, por que não apagas 

Co’a esponja de tuas vagas 

Do teu manto este borrão? 

Astros! noites! tempestades! 

Rolai das imensidades! 

Varrei os mares, tufão! … 

Na ode de Ricardo Reis, Fernando Pessoa não escondeu sua proximidade com o sublime ao expressar anseio por integridade:

Para ser grande, sê inteiro; nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.

Rainer Maria Rilke mostrou, no mais triste lirismo, que os altos voos são insuficientes para nos deixar completos:

A minha vida eu a vivo em círculos crescentes
Sobre as coisas, alto no ar.
Não completarei o último, provavelmente,
Mesmo assim irei tentar.
Giro à volta de Deus, a torre das idades,
E giro há milênios, tantos…
Não sei ainda o que sou: falcão, tempestade
ou um grande, grande canto…

Por comunicar uma beleza transcendental, poesia arrepia a pele e dá taquicardia, sua a palma das mãos e saliva a boca. Só poesia consegue desentravar afetos aterrados pela decepção.

A beleza que se esconde na poesia não se deixa perseguir; ela persegue. Na poesia, mãe de toda beleza, intuímos o eterno e aguçamos os sentidos para o divino.

Deus se deixa achar na beleza; ele é poeta.

Soli Deo Gloria

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