terça-feira, 31 de julho de 2012

'ANGUSTIA', DE GRACILIANO RAMOS, SERÁ FILMADO

Sylvio Back já fez o documentário 'O Universo Graciliano', espécie de preparação para a adaptação da obra ficcional

O diálogo com as letras está sempre presente na carreira de Sylvio, com atestam sua cinebiografia poética Cruz e Sousa - o Poeta do Desterro, e também com a versão do suicídio em Petrópolis do escritor austríaco Stefan Zweig, na produção internacional Lost Zweig, baseada no livro de Alberto Dines, Morte no Paraíso. A vocação de diálogo com a literatura continua agora na adaptação do romance do escritor alagoano Graciliano Ramos, Angústia, prevista para o início do ano que vem.

Filme vai ao encalço de rastros de Graciliano, que viveu de 1892 a 1953

 
Ganhando musculatura para o desafio, Sylvio já filmou o documentário O Universo Graciliano, com locações em Maceió e Rio de Janeiro, uma espécie de preparação para a abordagem da ficção do autor alagoano. "O filme vai ao encalço de rastros, sombras e escombros imemoriais em torno e sobre o genial Graciliano, que viveu de 1892 a 1953", conta. Esse documentário prospectivo é definido pelo cineasta como espécie de "ensaio geral" com vistas à abordagem de Angústia, romance jamais filmado de Graciliano. O difícil trabalho de passagem da prosa do escritor alagoano para as telas terá início no final do ano.

Sabe que, além das dificuldades intrínsecas da versão para a tela terá de enfrentar comparações. "Dos livros ‘clássicos’ de Graciliano, Angústia é o único ainda não filmado; os demais, Vidas Secas e Memórias do Cárcere, ambos de Nelson Pereira dos Santos, e São Bernardo, de Leon Hirszman, são hoje obras seminais do cinema brasileiro. Por aí pode-se aquilatar a minha responsabilidade", diz. De fato, Vidas Secas é tido como uma das obras clássicas do Cinema Novo, assim como São Bernardo. Memórias do Cárcere foi o filme considerado como símbolo do processo de abertura política que se realizava no País, após 20 anos de ditadura.

Angústia é também um grande desafio. É, talvez, o mais "existencial" e atormentado dos romances de Graciliano. Seu personagem, Luís da Silva, sem deixar de ser brasileiríssimo e nordestino, tem um toque dostoievskiano. A narrativa flutua entre a vida presente do funcionário Luís e recordações da sua vida pregressa, da morte do pai e do amor ambíguo por Marina. O engraçado é que, a certa altura da narrativa, o personagem não deixa de destilar sua raiva contra uma invenção moderna que, de acordo com ele, seria contra a moral e os bons costumes - o cinema.

O fato é que as dificuldades são muitas. Narrado em primeira pessoa, com linha temporal fragmentada e uma densidade psicológica difícil de encontrar em personagens contemporâneos, do cinema ou da literatura, Angústia é uma das obras-primas das letras brasileiras. Para vertê-lo para o cinema, é preciso, primeiro, compreendê-lo de forma profunda. Foi o caminho escolhido por Back. "As pesquisas para filmar O Universo Graciliano nasceram à época da escritura do roteiro de A Angústia (é o título que terá a produção) quando me dei conta que até então ninguém havia realizado um filme sobre a vida-obra-e-morte de Graciliano Ramos", diz. Aprofundando-se no ambiente em que viveu Graciliano Ramos, o cineasta acredita ter adquirido uma visão abrangente sobre o personagem e sua obra.

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